Ambev Aposta em Inovação e Tecnologia para Vencer a Queda de Braço no Mercado Premium
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A forma como o brasileiro consome cerveja mudou, e não é preciso ser um grande mestre cervejeiro para notar o movimento. Basta olhar para a prateleira dos supermercados. Cinco ou seis marcas tradicionais deram lugar a uma infinidade de opções classificadas como “premium”. Há alternativas para todos os gostos e bolsos — até para quem prefere reduzir ou evitar o álcool sem abrir mão do prazer de uma boa cerveja gelada.
O que antes se restringia a ocasiões especiais ou a cervejarias artesanais ganhou escala. No Brasil, duas das principais fabricantes do país — Ambev e Heineken — enxergam no segmento premium uma forma de contornar a queda no volume consumido. Dados da Associação Brasileira de Supermercados (Abras) indicam que esse mercado deve movimentar R$ 80 bilhões até o fim do ano. O número de marcas cresceu 15%.
Nas divulgações de resultados do terceiro trimestre, ambas as companhias afirmaram ter ampliado participação — embora divergissem sobre quem, de fato, lidera o setor. Para a Ambev, os meses entre julho e setembro marcaram a retomada da liderança após dez anos. Já a empresa holandesa sustenta que continua na primeira posição.
O mais provável é que a discordância decorra da forma como cada uma classifica as marcas incluídas no segmento. A disputa pela coroa, porém, evidencia o peso que a categoria premium assumiu nas estratégias das empresas. Segundo cálculos da própria Ambev, esse mercado cresceu mais de 200% na companhia desde 2019.
Os bilhões em vendas representam apenas uma parte desse universo. Nos últimos anos, os investimentos em ampliação de capacidade têm sido expressivos. Em outubro, a Heineken inaugurou uma fábrica de R$ 2,5 bilhões em Minas Gerais. Na semana passada, foi a vez de a Ambev anunciar um aporte de R$ 1,3 bilhão no estado para expandir linhas de envase. O objetivo, segundo nota da empresa, é “reforçar o papel central de MG na produção de cerveja premium no Sudeste”.
Com marcas como Stella Artois, Corona, Spaten e Original, a Ambev não pretende desacelerar a estratégia de “premiunização” tão cedo. “O que a gente vem observando é um amadurecimento cada vez maior da categoria. As pessoas estão buscando mais qualidade e esses micro prazeres do dia a dia”, afirma Gustavo Castro, diretor de estratégia e inovação da companhia.
Em entrevista à Forbes Brasil, Castro comentou como a mudança no comportamento do consumidor exige realinhamento estratégico, destacou o peso da inovação para a sobrevivência e reforçou que o ambiente competitivo dentro da cerveja premium sempre foi acirrado — e deve continuar assim por um bom tempo.
Estratégia não é surfar tendências
Correr atrás de uma tendência já em curso pode ser um tiro no pé para qualquer negócio, independentemente do setor — e no mercado cervejeiro não seria diferente.
Para Castro, a ascensão do premium é fruto de um trabalho iniciado há anos, que ganhou tração à medida que a companhia passou a compreender com mais precisão a evolução do consumidor brasileiro. “O que a gente vem vendo é um amadurecimento cada vez maior da categoria”, diz. Esse entendimento ficou ainda mais claro quando o Zé Delivery passou a funcionar como um laboratório em tempo real, permitindo testar hipóteses e validar comportamentos sem depender apenas de pesquisas convencionais.
Uma cerveja para a praia, outra para o jantar com amigos. Uma terceira para harmonizar com uma comida especial, e talvez uma versão sem álcool para equilibrar o consumo do fim de semana. Com o tempo, o mercado percebeu que o público passou a buscar não apenas mais qualidade, mas também diversidade.
Segundo o executivo, é assim que novas marcas surgem na Ambev: dados que impulsionam inovação. Um dos exemplos mais recentes é a Stella Artois Pure Gold. Por se tratar de um rótulo que reduz calorias e elimina o glúten sem sacrificar o sabor, o lançamento foi considerado um desafio tecnológico. Em um ano, seu volume de vendas mais que dobrou.
A expansão do portfólio premium é planejada para evitar um risco conhecido do setor: o excesso de complexidade. Hoje, a Ambev opera com um conjunto que inclui Stella Artois, Corona, Spaten, Original e Chopp Brahma, cada uma desenhada para cumprir funções específicas na jornada de consumo. “É importante ter variedade, mas sem perder eficiência. O portfólio precisa ser complementar, não redundante”, afirma Castro.
Colheita dos frutos
Os números mostram que a combinação entre dados, inovação e tecnologia tem dado resultado. De acordo com a Ambev, já são 18 trimestres consecutivos de crescimento no segmento premium — desempenho que, para o executivo, nasce da soma entre força de marca, inovação relevante, investimentos em capacidade produtiva e distribuição mais inteligente. Hoje, algoritmos ajudam a abastecer pontos de venda com os produtos adequados. “Não adianta ter a imagem certa se o consumidor não encontra o produto”, afirma.
Outro pilar dessa expansão é o avanço das cervejas zero álcool, tendência que impulsiona também as marcas premium. A Corona Zero, lançada durante as Olimpíadas, rapidamente se tornou relevante tanto em vendas quanto em construção de imagem.
Na estratégia corporativa, o premium cumpre dois papéis simultâneos: é motor de crescimento e, ao mesmo tempo, impulsiona o desenvolvimento da categoria ao ampliar ocasiões de consumo — inclusive durante a semana e em momentos de menor teor alcoólico. “Nosso principal desafio é garantir que a categoria continue saudável, equilibrada e presente nos encontros que as pessoas valorizam tanto”, diz Castro.
A movimentação crescente da concorrência, com novos investimentos em fábricas e capacidade, não altera a direção estratégica da Ambev. A visão, segundo o executivo, é manter consistência. “Estamos muito focados em desenvolver a categoria e crescer o premium. Temos sido bem-sucedidos nisso. É natural [a concorrência investir]; todo mundo quer crescer e tem sua própria estratégia, mas acreditamos que a nossa é seguir firme no plano que está funcionando.”
O próximo capítulo do premium dentro da companhia, porém, passa por algo menos visível para o consumidor: a tecnologia. No Rio de Janeiro, a empresa opera um dos maiores centros de inovação em bebidas do mundo, onde desenvolve soluções que até poucos anos atrás seriam inviáveis. Para Castro, essa combinação entre visão de longo prazo, disciplina estratégica e capacidade de antecipar comportamentos deve sustentar o premium como um dos principais motores da Ambev nos próximos anos.
A categoria amadureceu, o consumidor mudou — e a disputa pela liderança promete continuar acirrada. Mas, enquanto o mercado se reorganiza, a companhia aposta que tecnologia, inovação e consistência serão suficientes para manter o ritmo. Afinal, no universo bilionário da cerveja, ganhar espaço não depende apenas de lançar novos rótulos, mas de entender profundamente como, quando e por que o brasileiro quer brindar.
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